domingo, 31 de maio de 2015

Hoje e quase sempre estou assim, olho com mais afinco o que me incomoda. Percebo mais, fico remoendo cada ação, o que acaba por não me fazer perceber ou valorar de forma correta as coisas boas.
Adotei um livro da gratidão, mas agradeço pelas mesmas coisas quase sempre. Está difícil de sair da órbita doméstica … daquilo que é cotidiano e que pende mais para um lado do que do outro.
Descreverei o dia de hoje:

É domingo…
Acorda, tenta ir na rua comprar frutas e legumes de bicicleta só que está chovendo. Retorna.
Prepara a papinha de fruta do bebê e o alimenta.
[O outro adulto se oferece para ir na rua e começa a perguntar o que é necessário. O mesmo toma seu café em meio ao caos da cozinha, sem sequer organizar a mesa. Este sai e vai ao mercado.]
Então varre e passa pano na cozinha, forra o chão para o bebê brincar. Arruma a mesa para o café da manhã, acorda a outra filha que já passa da hora na cama e juntos tomam café.
[O outro adulto retorna. Em seguida senta para ver TV, mas pega o bebê e fica com ele.]
Lava a louça da janta do dia anterior e do café, para então preparar o almoço.
Cozinha o almoço, cozinha a comida do bebê.
E chama a todos para almoçarem, coloca a mesa.
Alimenta o bebê, põe a comida da criança. E quando percebe que está demorada a evolução do almoço do bebê, coloca sua própria comida, para ir almoçando e alimentando-o ao mesmo tempo. Neste momento o bebê não quer ficar mais no cadeirão, então o outro adulto o olha enquanto …
Finaliza o almoço. Deita-se no chão por alguns minutos, pois o bebê quer mamá. Amamenta, descansa e brinca com a outra criança.
[O outro adulto almoça, ao término vai dormir.]
Percebe que as crianças não tomaram banho.
Levanta-se e prepara o banho de ambas, ao mesmo tempo, cada uma em sua banheira, inclusive a piscina da barbie. Finaliza o banho da bebê enquanto a irmã continua brincando e se ensaboando. Leva a bebê para quarto, põe fralda e é interrompida pelo chamamento da outra criança, solicitando atenção. Pede diversas vezes que espere um pouco. Mas resolve acordar o outro adulto da casa para por a roupa no pequeno enquanto encerra o banho da grande.
Banho encerrado, o outro adulto se oferece para vestir a criança, então…
Toma banho, com uma pequena pausa para ler uma reportagem do jornal de sábado.
Inventa de fazer uma receita e a criança diz que vai ajudar.
Só que o bebê chora , então pausa para amamentar, enquanto a outra criança reclama que quer fazer brownie. Reclama. Reclama e reclama. Digo para o outro adulto, levantar da cama e fazer um lanche para a criança, enquanto não se faz o brownie. Até que o bebê dorme.
Na cozinha, termino o lanche da criança. O bebê acorda. E o outro adulto é solicitado para fazer e dar o lanche do bebê.
O outro adulto reclama, diz que precisa estudar. E diz que alguém tem que fazer. Mas se não tem outro alguém, ele mesmo tem que fazer.
Começa a preparação do brownie, que vai para o forno e o bebê ainda está comendo.
Começa a limpeza das louças e etc., depois pega-se o bebê e vai para o quarto brincar, ler e brincar. Os três, enquanto o outro adulto vai estudar.
 O brownie pronto, canta-se parabéns para a boneca aniversariante e come-se o bolo.
Descansa-se um pouco, acessa-se a internet, enquanto as crianças brincam, todos na cama. O tempo passa …
Percebe-se que já passou do horário do jantar.
Põe janta para a cria e para o bebê. Depois, sobremesa. Estende a roupa que está na máquina desde cedo. Escova os dentes da cria, troca a roupa e a  fralda do bebê. Põe na cama. Amamenta e conta história. Pede silêncio diversas vezes. Nina e todos dormem.
Acessa as redes sociais e esquece o tempo, começa a escrever este texto, são 02h da manhã.
O outro adulto parece ter terminado seus estudos.

*   *   *

Estou cansada. Principalmente porque meus planos para o dia de hoje não eram esse.
O primeiro, de sair pela manhã e almoçar na rua. Falhou! Perdemos a hora, acordamos 10:30h.
O segundo, de após o almoço ir na biblioteca e depois à livraria. Falhou! Pois com o tempo chuvoso, sem dinheiro (hoje é o último dia do mês) e exausta, desanimei. Os banhos se encerraram aproximadamente às 17h e neste horário, nada mais está em tempo hábil…

Ando extremamente cansada dos afazeres domésticos. Dessa rotina de cuidar de tudo e de não ser cuidada. De se achar assoberbada de coisas, sem ter tempo para cumpri-las.
Mas mesmo assim tento agradecer, por poder fazer o que  faço, por ter saúde… Mas no fundo, no fundo, me sinto só e extenuada.

Quero (preciso) voltar com a terapia.
Quero fazer jiu-jitsu.
Quero um dia num SPA.

Mas por enquanto tenho que cuidar, cuidar e cuidar. Escrever, escrever e escrever, tenho uma dissertação para defender. Retornei ao trabalho e o outono insiste em deixar todas as crianças do mundo doentes. Mais trabalho…

Dai-me forças, meu pai!